terça-feira, 21 de junho de 2011

BAILADEIRAS AS DEVASIS DE GOA



Bailadeiras, as Devadasis de Goa...
Alguma vez você já ouviu falar em "prostitutas sagradas" da Índia? Meninas e mulheres que dedicam-se à antigas práticas culturais num arranjo ímpar entre religiosidade e sexualidade?

"A prática de oferecer meninas a divindades na esperança de conseguir fertilidade e prosperidade não é exclusiva da Índia. Na Itália, por exemplo, era costume oferecer uma "vestal virgem" durante a época da colheita de uvas, e as civilizações da Mesopotâmia, Babilônia, Egito, Síria e Grécia usavam moças para aplacar os deuses." (Devadasis, as servas da deusa)

Na postagem sobre as Devadasis (leia novamente clicando no link acima) o nosso querido Evandro do blog A vida numa Goa comentou sobre seu encontro com as bailadeiras goesas durante sua viagem à Índia. Segundo ele, é mais um dos aspectos culturais tipicamente indianos, ou seja "complexo, ambíguo, difícil..." E põe difícil de entender para nós, os ocidentais não é mesmo Evandro?

Evandro (de camiseta branca) com as Bailadeiras de um templo em Goa. (Foto gentilmente cedida para esta postagem)

Desde que chegaram nas terras do reino no além mar, os cronistas portugueses nas colônias lusitanas no Oriente dedicaram-se a registrar as práticas culturais dos nativos. Seus diários, correspondências e publicações testemunham acontecimentos de uma época singular na História da Humanidade: o choque cultural Ocidente X Oriente ("Civilização" versus "Barbárie") nos séculos XVI, XVII e XVIII. Os elementos culturais, alimentação, vestimenta, habitação, língua, organização política, religião, trabalho, etc. dos povos orientais destacavam-se nestes registros e demonstravam os olhares de estranhamento e até mesmo aversão à algumas destas práticas. O preconceito, a distorção e a incompreensão levaram estes ocidentais à classificar estes "outros" como incivilizados, irracionais, bárbaros, justificando desta forma a dominação imposta aos mesmos.
E é mais ou menos esta a visão que os portugueses tinham dos indianos no período da expansão ultramarina. Boa parte destes cronistas eram religiosos, militares ou ocupavam cargos administrativos à mando de Portugal, sua visão de mundo etnocêntrica, católica, ocidental e paternalista, denuncia o rigor a que submetiam suas análises dos nativos orientais. Neste contexto é que eles descrevem as bailadeiras de Goa como dançarinas, "artistas de segunda classe", prostitutas à serviço dos templos e não poupam críticas em relação à estas "mulheres públicas".

Leia abaixo trechos do Glossário Luso-Asiático sobre o termo "Bailadeira":

"Bailadeira (Balhadeira, p.us.). É a mulher que na Índia dança por profissão. Vive geralmente ao pé do pagode e exerce a prostituição. O célebre chinês Hiuen Thasanf, peregrino budista do século VII, faz menção de bailadeiras que cantavam constantemente num pagode de Multane. Os franceses e os ingleses transformaram bailadeira em bayadère, que alguns portugueses empregam por não conhecerem na língua vernácula termo equivalente! Em indo-inglês usa-se mais dancing-girl, ou nautch-girl, que tambêm significa o mesmo. Em concani chamam-lhe kalävant ou kalvant, "artista". V. Gonçalves Viana, Palestras.
[...]
1577.- "As balhadeiras, em que está toda a felicidade dos infieis destas partes são libertas de todas as tyranias e vituperios acima ditos; são molheres publicas que por dinheiro se não negão a ninguém, as quaes andão bem ataviadas e acompanhadas; chamão lhe balhadeiras, por que balhão, cantão, tangem, volteão, muito bem ao seu modo". - Primor e Honra. fl. 9.
[...]
1603. - "No segundo sobrado hião muitas molheres, das que chamão bailadeiras dos Pagodes, que todas são publicas, deshonestas, e ganhão com suas torpezas pera o Pagode, as quaes hião dansando e cantando, e bailando". - Fr. Antonio de Gouveira, Jornada do Arcebispo, fl. 39.
[...]
1697. - "Bayladeiras se chamão na India as mulheres publicas, que habitão nos pagodes; por que todas baylão, e cantão... Recolhiãose tambem neste pagode as viuvas, que se não atrevião a queymar vivas com os maridos como costumam alguns destes barbaros". - P. Francisco de Sousa, Oriente Conquistado, II, r, 1.
[...]
1825. - "As bailadeiras são dançarinas da segunda ordem; recebem egual educação; mas não ficam sendo propriedade dos pagodes" (como as devadasis q.v.). - José Inácio de Andrade, Cartas, r, p. 48.
[...]
1877. - "As bailadeiras formam na India uma instituição monstruosa, anomala, aos olhos dos christãos. Como as sacerdotizas de Vesta, ellas alimentam no templo o fogo sagrado, e, como as bacchantes das saturnaes, são votadas aos prazeres lascivos dos seus voluptuosos senhores". - Tomás Ribeiro, Jornadas, II, p.102.
[...]
1886. - "As kalavontes são mais conhecidas pelo nome de bailadeiras, que lhes deram os primeiros portuguezes, que vieram á India". - Lopes Mendes, A India Portuguesa, II, p. 34."

(DALGADO, Sebastião Rodolfo. Glossário Luso-Asiático*. Parte II. Hamburg: Buske, s/d. Páginas 80 e 81.)
*Reimpressão da edição original de Coimbra, 1919.

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